sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Ela e Ele

Haviam duas pessoas no quarto. Havia ele. E havia ela. Ele estava deitado na cama, esparramado, como se pertencesse aquele lugar. Como um grande gato preguiçoso. Como se aquele cômodo, e por consequência aquele móvel, fosse dele. Mas não eram. Eram dela. E ela estava sentada na sua escrivaninha, trabalhando arduamente. A cena era engraçada e ao mesmo tempo estranha. Ele, no quarto dela.
- Hey, o que você tanto digita nesse seu computador?
- Aff, não sou rica como você, tenho que estudar - Ela replicou revirando os olhos, enquanto se virava para ele.
As risadas dele ecoaram pelo cômodo com tranquilidade e a cara amarrada dela se desfez como num passe de mágica.

Essa era a cena mais comum entre eles. Ele deitado na cama dela. Ela brigando com ele por ser um vagabundo.


Em uma outra cena que eles protagonizavam, era comum ela estar no banho e ele no quarto dela, onde ele dizia pertencer, e a campainha tocar. E lá do banheiro ela gritar

"Levanta essa sua bunda daí e faça algo que preste: Atenda pra mim"
E lá ia ele, não como o gato preguiçoso, mas como um cão fiel ao dono. Ele descia as escadas com certa pressa a abria a porta para encontrar o outro, dar um sorriso de escárnio e virar sua cabeça para as escadas e gritar de volta.
"Ele está aqui, devo deixá-lo entrar?" E uma risada tosca sai de sua boca, como um grunhido felino. Lá de cima, um pequeno muxoxo sai de onde ela está.
"Seu idiota, mas é claro que sim! Já vou me vestir"
E algum barulho alto no andar superior faz ele e o outro rirem do fato dela ser desastrada.

Eles estava sempre ao lado dela, não importava a situação. Afinal, eles eram amigos. Não, não só amigos, mas sim melhores amigos. Não é?

"Hein... Acho que nunca perguntei para você... Nunca se interessou por ninguém?" Ela perguntou certa vez enquanto os dois estavam sentados desfrutando do por de sol no telhado da casa dela.
Ele se virou surpreso para ela e sorriu como o gato de Cheshire e se aproximou dela até poder sentir de leve o nariz dela encostar no seu.
"Claro que já me interessei. Na verdade, nesse exato momento, eu estou muito interessado em alguém." Os olhos dele, pertubadoramente sinceros e cheios de significados ocultos, estavam fixos nos dela.
Por um segundo, ela prendeu a respiração. Aquele momento pareceu durar para sempre.

E então, como num passe de mágica, ele teve de ir embora. A separação foi dolorosa.

"Eu tenho que... Sair do país" o olhar dele vacilava no dela e trazia muita dor consigo. 
"Quando...?" Ela falou com um fio de voz. Ela perguntou muita coisa ao mesmo tempo. Ela sabia. E ele também.
"Vou embora em duas horas. Está decidido há algum tempo já. Não sei quando volto" Os olhos dele vacilaram para longe dos dela. Ele sabia que um crack inaudível havia acontecido dentro dela. Mas não poderia fazer nada.
E ela, ah, ela, ela só sentia raiva.
"Eu-você-nós... EU TE ODEIO!" Ela falou de soco, num impulso. E automaticamente suas mãos foram parar em sua boca, como se não acreditasse no que havia dito. Seus olhos estavam mareados. Ela estava próximo de explodir.
Ele não respondeu, era um gato abandonado naquele exato momento. Aquela foi a deixa para ela sair correndo. Suas lágrimas descendo por seu rosto de uma forma dolorosa. Para os dois.

Ele fora embora. Ela sabia. Ele sentia. Foram tempos de trevas. A separação fora dura. Mas o reencontro inevitável.

Já fazia muito tempo que ele havia ido embora. E por mais que o outro estivesse perto o tempo todo, ainda não era ele. O sorriso dela não era mais tão vívido, mas ela sobreviveria. E olhando para o outro enquanto conversava com ele não viu o que acontecia a sua volta. A cena foi rápida. Ela caminhava sem olhar para frente, enquanto o outro olhava para o caminho.
Em frente a casa dela, ele estava parado, com um belo sorriso felino no rosto, mas sem aqueles clichês femininos como presentes. Ela não precisava daquilo. O outro, quando o viu, parou de falar e de caminhar.
Ela, distraída, nem percebeu.
Mas o magnetismo entre os dois falou mais alto. Ela sentia aura dele. Seu olhar foi atraído pelo dele. O final era predizível: Ela correu para os braços dele, do melhor amigos, de seu confidente, daquele que ela amava, e o beijos com todo o sentimento de sua alma antes quebrada, e agora completa.

As palavras... Meramente desnecessárias.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Tempo

Talvez a dor se vá com o tempo.
Mas isso só ele próprio dirá.
Enquanto isso eu aguento em puro silêncio.