[...]Eu parei o que eu estava fazendo no momento que me senti observada.
Havia um gelo na minha espinha, como se algo estivesse fora do normal. Varrendo a paisagem ao meu redor com minha visão, acabei por encontrar dois olhos intensamente azuis. Era um lobo. Seus olhos azuis estavam fixos em mim, me observando. Sua pelagem acinzentada, clara e perfeita não dava indícios de possíveis movimentos. Mas eu não sabia o que ele poderia fazer. Virei meu corpo, devagar, sob sua intensa observação, para poder ficar de frente a ele. Com calma, sentei no chão. Eu estava ciente de que correr era inútil, ele seria mais rápido que eu. Minha única chance era não despertar o interesse de caça nele. E era o que eu estava disposta a fazer. Passei a encarar seus olhos frios diretamente por muito tempo. Eu já estava contando as diferentes nuances de cores quando algo mudou. O olhar do animal ficou brando e, como um animal doméstico, ele se aproximou de mim, sentindo meu cheiro. Sem desviar dos olhos dele, deixei que se aproximasse e avaliasse, pelo meu odor, se eu era de confiança. Foi uma surpresa incrível vê-lo deitar a cabeça em meu colo, pedindo afago. Com um sorriso, eu passei minhas mãos calmamente por seu pelo grosso e invernal, sentindo a textura da proteção animal. A maciez sutil, embora resistente, me fez sentir vontade de não sair dali nunca. Ele ficou ali, de olhos fechados apreciando meu afago, por muito tempo. Ele só voltou a se mexer quando ouvimos um uivado ao longe. Ele voltou a me olhar, se aproximou do meu rosto e passou o focinho gelado gentilmente em meu nariz. Eu sorri e beijei e região com carinho. O rabo dele se mexeu, imagino que satisfeito, e ele me deu um último olhar. Eu sorri, o incentivando a ir embora, e ele grunhiu baixo, triste. E antes que eu pudesse olhar novamente, ele já havia se embrenhado na mata para voltar ao seu povo. Levantei, tirei as folhas das minhas vestes e dei as costas ao lugar imaginando quando veria meu lobo de novo. [...]
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