[...]Eu a vira fazendo aquilo tantas vezes. E mais uma, eu iria estar ali por ela. Eu tirei-lhe os fones de ouvido e carinhosamente puxei-lhe para meu colo, cantarolando em seu ouvido sua lullaby. Aquela que eu criei para ela, para quando ela não podia ouvir música alguma. Com calma aconcheguei-lhe em meu ombro, embalando-a em uma calmaria perfeita. Seu problema com músicas envolvia algo que sempre mandei ela evitar: associar boas músicas a más pessoas. Eu vi isso se desenvolver. E vejo cada vez com mais tristeza isso se repetir. Começou com Shortinho Saint Tropez, onde a vi dar seus primeiros passos de dança e seus primeiros passos para a arte. Depois, foi para qualquer música do Bonde da Stronda, pois ali ela encontrava todas as respostas para todas as suas dores. Em seguida, Halo, e eu vi ela sentir dor por cada acorde presente na música, cada um trazia mais e mais lembranças. No meio do caminho, houve também Forever, With You e Hot Mess, onde ela se perdeu diversas vezes encontrando seu próprio ritmo várias e várias vezes. Após, foi a vez de Teenage Dream e Everything, que retratavam-lhe duas dores distintas, dois amores que lhe beiravam a loucura e tiravam sua sanidade, que fizeram com que questionasse tudo aquilo que ela era e que sempre fora. Vi ela sentir saudades ao ouvir Lágrimas nos Olhos, onde retratava seu passado mais querido e mais traiçoeiro. E durante maior parte dessas, vi ela sorrir como uma criança cada vez que cantava, ouvia e mandava Love story, sonhando com sua história com final feliz durante anos. Ela ainda ouvia esta última, era a que estava lhe atormentando novamente, depois de tantos anos. Uma música, uma combinação de fatores. Não adiantava, ela associava e tinha de parar de ouvir. Ela estragara boas músicas por associar a péssimas coisas. E aí eu ficava aqui, cuidando dela e tirando tudo de sua mente, enquanto ela tentava esquecer. Eventualmente ela conseguia voltar a ouvir as músicas, se perguntando como eu conseguia. Eu nunca tive o mesmo problema que ela. Eu evitei as situações em que ela se pôs. Ao invés de amar pessoas, eu amei músicas. E isso me tornava mais livre do que qualquer outra pessoa.[...]
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